16.9.11

de profundis amamus

Mario Cesariny de Vasconcelos.jpg

DE PROFUNDIS AMAMUS (mário cesariny de vasconcelos)

Ontem
às onze
fumaste
um cigarro

encontrei-te
sentado

ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus

estavam perdidos
por natureza própria
Andámos
 dez quilómetros

a pé

ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros

é da natureza das coisas
ser-se visto

pelos porteiros

Olha

como só tu sabes olhar

a rua os costumes
O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio

e há quatro mil pessoas interessadas

nisso

Não faz mal abracem-me
os teus olhos

de extremo a extremo azuis

vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes

não te importes

muito
nós só temos a ver

com o presente
perfeito

corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem

o estranho verbo nosso


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