Admirava tanto a vida piscatória que disse ao seu grande amigo Manuel Vagos que gostaria de passar por essa experiência para saber mais, “muito mais”. Já tinha ido ao mar pôr uma rede de arte xávega e uma rede de cerco do “Olhinha”, António Gualdino Vidinha; mas, um dia, na taberna, Manuel Vagos chamou um amigo pescador – José Formiga Peixe - para levar o escritor ao mar, o que ficou desde logo combinado.
Nesse grande dia, o amigo de Manuel Vagos disse: “Senhor Alves Redol, esteja aqui à uma hora e meia, duas horas em frente ao Tonho Aleluia, que é para ir para o mar”. Mas, Alves Redol não quis assim, porque preferiu ser “chamado à porta” como se fosse um pescador. Coube a tarefa ao jovem Diamantino Peixe, porque era ele o “chamador”. Batendo à porta do Manuel Vagos, como fazia aos outros pescadores, disse: “Senhor Alves, venha até cá abaixo com Deus e não se esqueça”.
Entraram ao mar, em frente ao Ribamar. Estava o “mar de rojo”. Alves Redol apenas trazia uns botins, pertencentes a Manuel Vagos. Quando embarcaram, passados 45 minutos, começou-se a levantar vento. Então, o pescador José Formiga Peixe, que era o arrais do barco, quis que Alves Redol passasse para bordo do barco “Monte Branco”, mas o escritor assim não o quis, dizendo que “com quem tinha ido é com quem tinha de vir”. O vento começou a levantar...
Tudo o que se passava, tudo Alves Redol anotava. Com os pescadores aprendeu, por exemplo, que, quando entra no barco o primeiro peixe, todos retiravam o boné e louvavam a Cristo.
Mais tarde, Diamantino Peixe, por estima e admiração por Alves Redol e pelas experiências que tinham passado juntos, registou o seu barco com o nome do seu livro – “Uma fenda na muralha”, uma história passada na Nazaré e baseada em factos reais, desde as vivências aos costumes.
Alves Redol era “um homem que nunca levou ninguém por maus caminhos, um bom conselheiro, bom homem” (Diamantino Peixe), que muito admirava os pescadores nazarenos. “A presença dele era uma presença significante (…). Apesar de ser uma pessoa modesta… toda a gente tinha uma consideração tal que era uma espécie de auréola que rodeava aquele homem” (José Soares).
Quando vinha à Nazaré falava muito com os pescadores, com quem ia para a taberna. Tanto estava no “Tonho da Aleluia”, como no “Zé Coelho”. Passava muito tempo na barbearia do senhor Abel da Silva, na Praça Sousa Oliveira, e era muito amigo de Eurico de Castro e Silva.
Mas a rua e o mar eram os seus locais preferidos. Para o escritor nazareno José Soares, se tivesse que identificar Alves Redol com um objecto, era com “um batel do alto, porque isso foi para ele uma obsessão”.
— um especial agradecimento a ab pelo texto e pela fotografia tirada na nazaré
Acabei de ler o livro e publicar a minha opinião sobre ele.
ResponderEliminarFiz um link para este post pois achei muito curioso o estudo que o autor fez para o escrever. efetivamente o realismo da escrita só faz sentido para alguém que tenha experimentado.
Obrigado ;) mai'nada
ResponderEliminar