31.7.12
A propósito de cigarros
Um dia, porém, o Zé comunicou-nos a sua intenção de abandonar o futebol. Ficámos consternados! Fizemos tudo para tentar demovê-lo.
Em vão! Estava mesmo decidido a retirar-se. Resolvemos, então, fazer-lhe uma festa de homenagem em forma. Como ele merecia! Decidimos também dar-lhe uma prenda. Seria aquilo que ele mais adorava: um maço de cigarros!
Nesse tempo, os cigarros mais baratos do mercado eram os da marca Fortes, a que o povo chamava de Mata Ratos. Havia, depois, duas marcas ao mesmo preço: a Provisórios e a Definitivos. Concorriam uma com a outra. Os Provisórios eram da Companhia Portuguesa de Tabacos e os Definitivos da Tabaqueira. Ambas as marcas se vendiam em maços semelhantes, de dois tamanhos: o pequeno, de 12 cigarros, que custava 8 tostões e o grande, de 24 cigarros, que custava 12 tostões. Num gesto algo simbólico, atendendo à nossa secreta esperança de que a despedida do Zé não fosse definitiva, decidimos oferecer-lhe um maço de Provisórios, dos grandes. Precisávamos de arranjar, entre todos, 12 tostões. Foi tarefa nada fácil! Naquela altura, 12 tostões era muito dinheiro! Vimo-nos aflitos para os arranjar. Mas, finalmente, com um tostão daqui, meio tostão dali, lá os conseguimos.
Na tarde do domingo aprazado para a homenagem, o encontro realizou-se no largo da igreja.
O relógio da torre servia de cronómetro.
— David Paiva Martins - Jogos tradicionais
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