29.3.14

Os 3 Reis Magos


Fulano, Beltrano, Sicrano

Lembro-me do meu pai falar deles amiude, Fulano isto, Sicrano aquilo e Beltrano também... costumava falar deles p'ro bem e p'ro mal, quando assim lhe convinha, enfim!... nunca soube bem porquê, soube-o à dias no instante em que me perguntavam o nome dos três reis magos e respondi Fulano, Sicrano e Beltrano e ficaram todos atónitos a olhar para mim... — É a sério ou estás a inventar?
— A sério, Fulano, Sicrano e Beltrano... — soube-o nesse quimérico instante e em silêncio e com um secreto sorriso fui dando conta de muitas outras memórias...
Era costume encontrá-los ao fim do dia a fumar e a beber copos na taberna do meu pai. Na altura eu era muito miúdo para saber verdadeiramente alguma coisa de reis... já lá vão muitos anos


Imagem: Marcel Marceau

19.3.14

Rainer Maria Rilke (1875-1926)

Rainer Maria Rilke, Sommer 1913. Foto: pa/akg
Rainer Maria Rilke, Villa Strohl-Fern, Roma, 1904.

o homem que casou com uma sereia


Creio que devia começar a trabalhar, agora que aprendo a ver. Tenho vinte e oito anos, e até aqui aconteceu tanto como nada. Vamos repetir: escrevi um estudo sobre Carpaccio, que é mau; um drama chamado «Matrimónio» que quer provar, por meios equívocos, qualquer coisa falsa; e versos. Ah, mas que significam os versos, quando os escrevemos cedo! Devia-se esperar e acumular sentido e doçura durante toda a vida e se possível durante uma longa vida, e então, só no fim, talvez se pudessem escrever dez versos que fossem bons. Porque os versos não são, como as gentes pensam, sentimentos (esses têm-se cedo bastante), — são experiências. Por amor de um verso têm que se ver muitas cidades, homens e coisas, têm que se conhecer os animais, tem que se sentir como as aves voam e que se saber o gesto com que as flores se abrem pela manhã. É preciso poder tornar a pensar em caminhos em regiões desconhecidas, em encontros inesperados e despedidas que se viram vir de longe, — em dias de infância ainda não esclarecidos, nos pais que tivemos que magoar quando nos traziam uma alegria e nós não a compreendemos (era uma alegria para outro), em doenças de infância que começam de maneira tão estranha com tantas transformações profundas e graves, em dias passados em quartos calmos e recolhidos e em manhãs à beira-mar, no próprio mar, em mares, em noites de viagem que passaram sussurrando alto e voaram com todos os astros, — e ainda não é bastante poder pensar em tudo isto. É preciso ter recordações de muitas noites de amor, das quais nenhuma foi igual à outra, de gritos de mulheres no parto e de parturientes leves, brancas e adormecidas que se fecham. Mas também é preciso ter estado ao pé de moribundos, ter ficado sentado ao pé de mortos no quarto com a janela aberta e os ruídos que vinham por acessos. E também não é ainda bastante ter recordações. É preciso saber esquecê-las quando são muitas, e é preciso ter a grande paciência de esperar que elas regressem. Pois que as recordações mesmas ainda não são o que é preciso. Só quando elas se fazem sangue em nós, olhar e gesto, quando já não têm nome e já se não distinguem de nós mesmos, só então é que pode acontecer que, numa hora muito rara, do meio delas se erga a primeira palavra de um verso e saia delas.

Rainer Maria Rilke - Die Aufzeichnungen des Malte Laurids Brigge
Os cadernos de Malte Laurids Brigge
- 3ª ed. O Oiro do dia, 1983, trad. Paulo Quintela



18.3.14

Je est an autre


" quanto mais nos elevamos,
menores nos parecemos aos
olhos daqueles que não sabem voar". 


nietzsche



" desde a revolução industrial, os homens deixaram de lado a busca pelos objetivos mais dignos como seres humanos, e se inclinaram a obter bens materiais. a perda da dignidade provoca a degeneração espiritual, isto é, a morte do espírito humano. uma sociedade que perde suas aspirações humanísticas se tornará fria, insensível, atormentada pelo dogmatismo e pela ignorância."

daisaku ikeda

5.3.14

‘tás-m’ a comprender?



"Lingerie model standing in office, smoking while modeling undergarments."
Chicago, 1949. ~ photo by Stanley Kubrick - Look Magazine

'stás a comprender?