1.4.12

coisas



O homem é o único animal
que sabe distinguir a água benta
da água vulgar.

T. A. Withe


[...]
"Uma noite despiu-se, deixando apenas o lenço preto enrolado ao pescoço. Não me ocorrera até então que Sarah pudesse despir-se, isto é, fosse nua, que a roupa não pertencesse de nascença ao corpo dos animais humanos. As duas perazinhas (como chamar-lhes?) no peito, o musgo escuro entre as pernas!
Fiquei maravilhado!
Saltou dentro da banheira e abraçou-me:
- Posso confiar em ti, não dizes nada a ninguém?
- Onde está o mal? - Ainda hoje me pergunto que secreto instinto me levou a dizer "onde está o mal" em vez de "por que escondes o bem?".
Que não havia mal, apesar de muitos humanos pensarem o contrário. E, no entanto, suspeitei, ela própria achava mal e, extranhamente, achar mal aquecia-lhe o desejo.
Até que certa noite não se contentou com o banho, procurou-me no quarto, deitou-se comigo, e acabou por dizer, reagindo à minha timidez:
- Mete o teu piralau dentro de mim.
- Dentro, onde? - Afastei o lenço com que o acaso lhe cobrira o sexo, mas, para falar com franqueza, não via sítio.
Ela insistiu mostrando-me onde.
- Não cabe - respondi, apreensivo, receoso de que depois não mo devolvesse (recordava-me de certos cães, presos às cadelas, e que eu e os meus amigos corríamos à pedrada).
- Vais ver que cabe - garantiu.
Coube."

(Romance narrado na primeira pessoa, por um chipanzé.)

Augusto Abelaira. O Único Animal Que? Lisboa: O Jornal, 1985

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