8.3.12
Arrecadação
ARRECADAÇÃO
Relógio combalido...
minutos eram muitos, tantos, tantos...
e os astros à lareira
aprendem a aquecer-se...
Quantos céus vieram acabar ali!...
e ali estão a enrubescer à chama
e ajeitando a manta nos joelhos...
— E daquela vez que Saturno inclinou de mais o anel?
— E quando passávamos por detrás da lua!
Na terra toda a gente olhando,
a querer em nós ler o segredo...
Relógio combalido...
minutos eram muitos, tantos, tantos...
e os astros à lareira
aprendem a aquecer-se
e riem, riem mansamente...
quantos céus vieram acabar ali...
— Há quem não conheça a Via Láctea...
— Sabes? Também lhe chamam Estrada-de-Santiago...
— Disseram-me que o outro dia um homem descobriu a minha idade...
riem todos, riem mansamente...
minutos eram tantos, tantos, tantos...
Da janela da arrecadação
vê-se trabalhar pelo infinito,
uns pouco firmes, outros decididos...
Agora mesmo, um Poeta escreveu que nós andámos no infinito...
e riem devagar como se me vissem muito perto.
No silêncio crepitou a lenha,
há nova cor e variação de brilho.
— Além atrás da porta...
— Ah sim! É uma foice...
muito antiga... muito antiga... Já não corta.
E os astros riem, riem mansamente...
Relógio combalido...
minutos eram muitos, tantos, tantos...
28/7/1940
Jorge de Sena - Perseguição
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